O que eu gostaria que meus professores soubessem

Sou aluna de graduação, final de curso, então lá se vão uns 16 anos como estudante, um tempo considerável. No qual você começa a perceber certas características similares entres as aulas que "dão certo" e entre as aulas "que são um tédio". Eu eu sou dessas que acredita que a informação pode gerar reflexão que pode gerar mudança, então sinto a necessidade de dar este feedback, vindo do lado de cá, a versão de uma estudante.

Antes de começar é sempre bom estabelescer uns parâmetros, este texto não está sendo direcionado a ninguém em específico, é um assunto que penso a muito tempo e que achei neste dia chuvoso, tempo e disposição para escrevê-lo. São também, minhas interpretações pessoais, e não sei o quanto refletem a opinião de meus caros colegas estudantes.

Há uma crescente preocupação e mobilização do corpo docente em cortar o celular e eletrônicos da sala de aula, pois eles seriam os grandes vilões da desantenção do aluno (será que são?). Eu parto do princípio de que se a aula está realmente interessante e envolvente o aluno não fará uso, ou fará o mínimo de uso de estragéias alternativas para "passar o tempo", pois eu vejo o uso do celular mais como uma consequência do que uma razão do desinteresse. Essas tecnologias são recentes, e alunos desinteressados (voltaremos a falar desse interesse mais tarde) sempre tiveram que encontrar algo para fazer caso a aula fosse tão tediosa o ponto de causar sono, eles desenhavam no caderno, escreviam bilhetinhos, simplesmente "viajavam" com os olhos fixos em algum ponto, etc. Tudo bem, concordo que ter um aparelho que acabou de vibrar no seu bolso é um distrator e pode atrapalhar a aula. Mas depositar a culpa do desinteresse nas aulas nas novas tecnologias é achar um culpado e não a solução para o desinteresse inicial.

Estabelecido isso, vamos problematizar este desinteresse. O sistema educacional brasileiro é extremamente rígido, não dá muitas opções aos alunos para fazerem escolhas, todos tem que estudar basicamente a mesma coisa, independente de seus interesses e habilidades. Este é um dos grandes problemas, mas não um que temos muito controle ou poder de mudança em curto prazo. Então, o que mais pode estar causando o desinteresse dos alunos? Uma grande questão, ao meu ver, especialmente tratando-se da formação universitária, é que muitos professores partem do pressuposto de que a motivação do aluno deve ser completamente interna, e eles não tem muito o que fazer se o aluno "não tem essa motivação interna em estar ali". É comum ouvir frases de professores do tipo: Fulano não entende que está se formando um profissional, que tem que tirar proveito deste tempo aqui, que tem que prestar atenção...
Nada contra esta observação, mas e por que há aulas em que o aluno é tão interessado e produtivo e outras em que ele é um fantasma? Acho um tanto quanto restritivo pensar que isso se dá excluivamente por interesses e características pessoais dos alunos. Muito já se foi estudado sobre o impacto que professores têm em sala de aula, nos seus alunos e no processo de aprendizagem como um todo. Sendo assim, está mais do que na hora de parar de responsabilizar o sistema e os alunos e aceitar sua própria corresponsabilidade como professor em sua aula não estar "dando certo" e haver grande desinteresse nos alunos.

Principais causas do desinteresse que envolvem a performance do professor (contexto universitário)

Novamente, esta lista se refere ao que me faz perder interesse em uma aula, os meus colegas podem falar por si próprios se eles concordam ou não com estes itens:

1) Repetição pela repetição: se é um pressuposto que o aluno leu o texto em casa, por que o professor irá falar item por item, tudo de novo o que o aluno supostamente acabou de ler?
Ex: Há três maneiras de estruturamos "x". 1)... 2)... 3)... 
Foi isso que o autor acabou de escrever. De que maneira você quer que os alunos mantenham achem este discurso interessante?

Nestes casos, ou os alunos vão parar de ler os textos, pois sabem que você vai repetir grande parte do que foi escrito de qualquer maneira, ou vão ler os textos e "viajar" na aula, ou até mesmo começar a faltar, pois a aula não acrescenta ao texto, e sim repete.

Sugestão: uma boa forma de resgatar pontos principais no texto é ter eles em um slide, para explorar  durante a aula com exemplos, dúvidas, exercícios, estudos de casos, etc. Coisas diferentes do que o autor apontou no texto, não um mero resumo ou repetição. 
Ou, se você não é nada digital, escreva no quadro (brevemente em tópicos) o que você pretende enfocar na aula e siga para a parte em que o aluno irá PARTICIPAR.

Se você quer forçar o aluno a ler o texto e quer ter a certeza que ele o fez, procure meios para ter esse controle. Não desperdice o tempo precioso da aula para isso. Sei lá, peça para o aluno responder algumas perguntas sobre o texto e enviar antes da aula. Mas o momento da aula não é a hora de você fazer perguntas de conferência de leitura de texto e sim de ir além do texto. Se não seu papel ali é indiferente, serás um mero capataz da leitura do texto.

Alunos não estão ali para ser ouvintes, estão ali para participar. Divida a sala em grupos menores, assim todos podem ter a oportunidade de falar. Encerre a aula trazendo para o grande grupos as principais reflexões dos pequenos grupos. Enfim, faça qualquer coisa em que o aluno se sinta parte, possa falar, possa entrar em contatos com exemplos práticos do que um autor já escreveu teóricamente e que o aluno já leu sobre isso em casa. Não adianta reclamar que não é produtivo ter 40 alunos em sala de aula se você não está fazendo nada para mudar esta dinâmica. Quem aguenta ficar 4 horas sentados em atenção constante a um professor discursa interminavelmente? 
Como você sabe se a turma está te acompanhando se você em momento algum tem um feedback dos alunos? Faz perguntas abertas, fomenta a discussão?

E na temática de fomentar a discussão, trago o próximo grande problema:

2) Perguntas Google: eu criei o termo perguntas "google" para todas aquelas perguntas feitas aos alunos que facilmente o google responderia. Ou seja, são perguntas não reflexivas, que envolvem basicamente o uso da memória, que tem "uma resposta certa", no qual se o aluno não responde exatamente o que o professor tem em mente, o aluno simplemente "não sabe", errou.
Essas perguntas são extremamente nocivas e minam a aula.
Por exemplo: 
Professor: Em que ano o Brasil se tornou independente?
O aluno pensa: 1800... e... ai, agora não tenho bem certeza. Acho melhor eu não falar nada.

Dai faço minha pergunta: De que forma esta pergunta acrescenta ao aluno ou a aula?
O google pode responder esta pergunta. De que forma isso gerou no aluno uma reflexão? Isso é mera informação, e não conhecimento.

Tudo bem, entendo que há professores que não sabem o que fazer para os alunos participarem. Acabam fazendo estas perguntas fechadas e dai se frustando quando de deparam com um silêncio geral. 

Sugestão
Exemplo de pergunta google: O autor indica três maneiras de se realizar o procedimento "x", quais são elas?

Exemplo de perguntas que geram participação: O autor indica três maneiras de se realizar o procedimento "x". Alguém já viu alguma destas maneiras na prática? Se sim: nos conte um pouco.
Se não, vamos pensar juntos então: Como poderíamos aplicar a maneira 1? Quais as vantagens e desvantagens desta maneira? 
E assim por diante.

As perguntas abertas aceitam múltiplas respostas. Por isso não inibem tanto os alunos. Você irá se surpreender com as respostas de seus alunos e talvez perceber que eles são seres pensantes, e não esponjas que estão ali para absorver seu precioso conhecimento. Eles podem concordar com você, discordar de você, fazer você rever suas próprias certezas... Mas é nesta interação mútua que eu vejo crescimento.

Para mim, estes são os dois principais problemas, pois eles implicam em uma postura em que o aluno é passivo e tem que estar atento e interessado no discurso do professor, enquanto ele próprio não é permitido falar (pois apenas é possível que uma pesssoa fale de cada vez, quando duas pessoas falam ao mesmo tempo ninguém se escuta. Então professor, se você falou por 30 minutos, você monopolizou a aula e não aceitou as contribuições que os alunos poderiam ter dado), a ele cabe o papel de escutar e ter motivação interna que no futuro ele vai aplicar aquilo que está aprendendo. Quando, na realidade, eu acredito que ele deveria estar já deveria estar fazendo o exercício de colocar aquilo que o autor já discursou em prática na sala de aula, tendo o professor como mediador entre a teoria e a prática e não como "ensinador de teorias". As teorias podem ser lidas em casa, o "pulo do gato" é a crítica e a implementação desta teoria.

Frente a isso temos o extremo oposto. Onde uma vez ao semestre o professor coloca os alunos para apresentar seminários, como se agora chegasse o momento do aluno de "participar". Eu digo: menos seminários e mais workshops! Uma breve introdução do tema e colocar os outros alunos para PARTICIPAR. Pois, vamos falar a verdade, quantos alunos escutam/tem interesse em ouvir o seu colega apresentar trabalho, no mesmo formato que seu professor dá as aulas todos os dias? No estilo: eu vou falar por 50 minutos e vocês vão ouvir e manter-se atentos.

Tudo bem, confesso que este texto ficou em tom de desabafo. Mas a mensagem é simples: alunos querem interação. As redes sociais fazem sucesso pois elas permitem a interação, a expressão, a participação, a cocriação. Essa tendência pode ser levada para as salas, onde o aluno não precisa interagir com seu celular, pois tem a possibilidade de interagir em aula!

Sempre gostei de estudar, sempre gostei de apreender, e já passei por momentos onde eu não tinha muito a dizer mesmo, eu era uma esponjinha. Lembro de quando eu aprendi que existia átomos, fiquei maravilhada e com medo deste novo universo. Mas a realidade universitária é outra e infelizmente me encontro, no momento, desanimada, desinteressada, sem vontade nenhuma de frequentar uma sala de aula. Aqui vai então, meu apelo aos professores, para refletirem sobre sua própria postura em sala de aula e como eles podem procurar instigar o interesse em seus alunos através da participação ativa em sala de aula, da interação.





Comentários

  1. Jackie!!! Realmente seu texto tem tudo a ver com a nossa conversa daquele dia!!! Não tá fácil viu? Vontade de marcar os profs, ou mandar este blog diretamente pra eles!!! Sabe..sempre achei que de uma forma ou outra, a gente como aluno tem que se esforçar tbm sabe...tem prazer que não é tão fácil, às vezes aprender, ouvir, assimilar custa, não é tão divertido, e é necessário um certo esforço de segurar o celularzinho (sempre tão divertido) dentro da mochila. Mas, olha, esse semestre está supimpa (sqn), tem prof que faz exatamente como você descreveu. Entende que a leitura com ele é muito melhor, que uma discussão que parta apenas da nossa leitura será superficial e que não sabe e não vê como dar aula de outra forma...é complicado

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